terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ego, o falso centro - OSHO


O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu.
A primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma: se torna consciente do outro.
O nascimento é isso: significa vir a este mundo, o mundo exterior.
É desta maneira que a criança cresce. Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela se torna consciente de si mesma.
Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se diz: “Você é bonita”, se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Agora um ego está nascendo. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito.
E esse é o Ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce – um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe – e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.
O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
O Verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos de passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro; o que é falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade.
Se você conhece o falso como falso (torna-se consciente), a verdade nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social.
Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade. Eles não estão interessados em você, mas sim, na sociedade. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade.
Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade, que significa dar-lhe um ego que se ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro. A sociedade não se preocupa com moralidade. Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento (ao conhecimento do Ser Divino que você é!). A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado.
A criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que você está continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. Eles modelam o seu centro. Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro; ninguém o modela, você vem com ele, nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade – o ego. Ele é algo falso – e é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, quem você é.Os outros deram-lhe a idéia. Essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora ou nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar condicionado, no centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu.
Haverá um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo, quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos. Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas.
Precisamos ser ousados, corajosos, dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai sentir-se atordoado. Por um certo tempo, você vai sentir-se muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem; não é a ordem da sociedade – é a própria ordem da existência. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente, tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas.
A diferença é a mesma que existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel. O ego é uma flor de plástico, morta. Não é uma flor, apenas parece com uma flor. E essa coisa de plástico é apenas uma coisa e não um florescer. Ela está morta. Não há vida nela. Você tem um centro que floresce dentro de você. Por isso os hindus o chamam de lótus – é um florescer. Chamam-no de o lótus das mil pétalas. Mil significa infinitas pétalas. O centro floresce continuamente, nunca para, nunca morre. Mas você está satisfeito com um ego de plástico. O ego tem uma certa qualidade – ele está morto. É de plástico e é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você (doações de fora). Você não o precisa procurar; a busca não é necessária para ele. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você será simplesmente uma parte da multidão.
Você é apenas uma turba (uma multidão em desordem).
Quando você não tem um centro autêntico como você pode ser um indivíduo?
O ego não é individual: é um fenômeno social, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Com uma vida de plástico, como você pode ser feliz?
Com uma vida falsa, como você pode ser extático e bem-aventurado? E esse ego cria muitos tormentos, milhões deles. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego continua encontrando motivos para sofrer. O ego entra em conflito com outros continuamente porque cada ego está extremamente inseguro de si mesmo. Tem que estar – ele é uma coisa falsa. Quando você nada tem nas mãos, mas acredita ter algo, então haverá um problema. Se alguém disser: “Não há nada”, imediatamente começa a briga porque você também sente que não há nada. O outro o torna consciente desse fato. O ego é falso, ele não é nada. E você também sabe isso – você, como um ser consciente, não pode deixar de saber que o ego é simplesmente falso. Um homem que alcança a consciência do eu nunca se encontra em conflito algum. Outros podem vir e entrar em choque com ele, mas ele nunca está em conflito com ninguém.
Somente uma coisa é necessária: simplesmente observar e ver que o ego é a origem de toda a infelicidade. Apenas, aquiete-se e observe. Você tem que chegar a esse entendimento. Sempre que você estiver infeliz, apenas feche os olhos e não tente encontrar alguma causa externa. Tente perceber de onde está vindo essa miséria: ela está vindo do seu próprio ego. Se você continuamente percebe e compreende, e a compreensão de que o ego é a causa chega a se tornar profundamente enraizada, um dia você repentinamente verá que ele desapareceu.
Ninguém o abandona – ninguém o pode abandonar. Você simplesmente vê; ele simplesmente desapareceu, porque a própria compreensão de que o ego é a causa de toda infelicidade, se torna o abandonar. A própria compreensão significa o desaparecimento do ego.
É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego dos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente aquiete-se e o observe. Não tenha pressa de o abandonar, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna.
De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Não existe outra maneira.
Você não o pode abandonar prematuramente.
Ele cai exatamente como uma folha seca.
A árvore não está fazendo nada – apenas uma brisa, uma situação, e a folha seca simplesmente cai. A árvore nem mesmo percebe que a folha seca caiu. Ela não faz qualquer barulho, ela não faz qualquer anúncio – nada.
A folha seca simplesmente cai e se despedaça no chão, apenas isso.
Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um, dia você simplesmente vê a folha seca caindo.
Ela pousa no chão e morre por si mesma. Você não fez nada, portanto você não pode afirmar que você a deixou cair. Você vê que ela simplesmente desapareceu, e então o verdadeiro centro surge. E este centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como o quiser chamar.
Ele é inominável, assim, todos os nomes são bons.
Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir.
Por isso: AQUIETA-TE E SABE!
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